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Ceilândia, Distrito Federal, Brazil
Eu sou a educadora Deise Saraiva,graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília, Pós graduada em Educação Especial - Deficiência Mental também pela UCB, Pós Graduada em Formação de Professores pela Universidade de Brasília e Mestre em Educação pela UnB. Com vasta experiência em diferentes áreas de atuação na educação: alfabetização, supervisão educacional, gestão escolar, formação de professores e professora especialista em Sala de Recursos (Atendimento Educacional Especializado para alunos especiais). Sou membro da RIC - Rede Internacional de Cuentacuentos, fundadora do grupo de contadores de histórias "Histórias e Tagarelices" (DF) e, claro, totalmente, apaixonada por histórias! Além disso tudo, ainda tenho a marca do sangue de Jesus em minha vida e por isto amo anunciar o Evangelho também através de histórias... Em fim, amo histórias, amo minha família, amo o meu trabalho e amo o meu DEUS!!!!

sábado, 3 de março de 2012

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PANDOLFO BEREBA
Eva Furnary

No reino da Bestolândia, havia um jovem príncipe chamado Pandolfo. Pandolfo nada entendia de amor ou de amizade.
Por ter sido mal-acostumado desde pequeno, Pandolfo tinha uma mania horrível. Ficava na janela do palácio observando as pessoas e anotando seus defeitos. Um tinha pé pequeno; o outro, perna torta; o outro, cabeção, e assim por diante. Depois de analisar bem a pessoa, ele dava uma nota, de um a dez. As notas raramente passavam de seis, no máximo, seis e meio.
Um dia, o príncipe, cansado de ficar só na janela teve vontade de ter um amigo.
A notícia espalhou-se rapidamente pelo reino da Bestolândia. Todos ficaram sabendo que Sua Alteza o príncipe Pandolfo, desejava ter um amigo.
Rapidamente formaram-se enormes filas de pretendentes em frente do palácio. Todo tipo de gente queria ser amigo do príncipe. Homem moço, velho, rico e pobre.
Com tanta gente a sua espera, o príncipe sentou-se no trono e preparou-se para escolher o felizardo.
Mandou que entrasse o primeiro candidato.
Levantou-se, olhou-o de alto a baixo e, com lhos experientes, avaliou sua aparência. Perguntou o nome e algumas coisas mais,.. Quanto era doze vezes doze... se sabia fritar ovo, se sabia jogar gamão, quando era o Dia do Carteiro e assim por diante.
Ao terminar, Sua alteza, o príncipe, fez um sinalzinho discreto para o súdito à sua esquerda e cochichou algo em seu ouvido.
O súdito, compenetrado, escreveu numa letra caprichada: inteligente, alto, de boa aparência, mas muito espinafrado. Nota 5. Não serve para ser meu amigo.
Sua Alteza, o príncipe, fez um sinalzinho sutil para o súdito da direita e o candidato foi dispensado.
Mandaram entrar o segundo.
O príncipe conversou, analisou e cochichou no ouvido do súdito da esquerda: “Culto, inteligente, fala mais de cinco línguas, mas não fez a barba e se veste muito mal, brega”. Nota quatro. Não serve.
E assim foi, o dia todo, um atrás do outro, era dispensado.
É simpático, mas bigodudo.
O bigode até que vai, mas as orelhas...
Hum... esse tem jeito de zureta.
O outro é bronco demais...
Nenhum servia.
O dia chegou ao fim e o príncipe Pandolfo não encontrou nenhum amigo. Todos os candidatos tiveram notas abaixo de seis, para ser amigo do príncipe, tinha que ter pelo menos nota nove e meio.
Desanimado, achou que as pessoas bacanas estavam em falta no mundo, e desistiu de procurar um amigo.
Sua Alteza, o príncipe, voltou à janela.
Fez listas intermináveis de defeitos de quem passasse em frente, mas não achava mais aquilo divertido. Estava enjoado de ficar só na janela. Sentia-se sozinho e sem graça.
Tempos depois, num dia de muitas idéias, pensou em querer outra coisa.
Uma namorada. Uma princesa, uma princesa nota dez.
O príncipe Pandolfo anunciou seu desejo aos quatro ventos e a notícia espalho-se pelo reino da Bestolândia.
Filas intermináveis de moças, mocinhas e velhotas e velhotas formaram-se nos portões do palácio
Iniciou-se a árdua tarefa de encontrar a linda, divina e maravilhosa princesa que mereceria a mão do príncipe em casamento.
Encontrou a primeira candidata. Depois de um olhar meticuloso a pergunta:
- Como se chama?
- Pafúncia.
O príncipe cochichou algo a respeito do nome dela para o súdito da esquerda.
E, depois de um gesto de Pandolfo, o súdito da direita a dispensou.
Entrou a segunda candidata. O príncipe perguntou sobre matemática, culinária, moda, filosofia e jogo de gamão. Avaliou de alto a baixo. Inteligente, gentil, porém tem braços curtos. Nota cinco e meio. Não serve para mim.
Uma tinha muito cabelo e pouca bochecha. A outra tinha pouco cabelo e dentes demais.
A segunda era chata e além do mais, usava peruca.
A que veio depois não usava peruca, mas era chata demais. Nenhuma servia...
O príncipe terminou a tarefa triste e deprimido.
Três longos dias de avaliação e nenhuma pretendente à altura.
O tempo passou e Sua Alteza foi ficando largado e sem graça.
Todos estavam preocupados com ele. Tentavam animá-lo de muitas formas, bobos da corte, festas, bailes, mas nada alegrava Sua Alteza. Só andava de pijama, barba por fazer, resmungando pelos cantos do palácio.
Um dia, porém, ele estava passeando pelos jardins do castelo, quando viu uma borboleta amarela. Achou a borboleta linda, nota dez, e foi atrás. Por um acaso do destino, os portões estavam abertos, e, sem perceber, Pandolfo saiu pelas ruas seguindo aquele vôo em ziguezague.
Quando deu por si estava longe, esqueceu a borboleta e saiu, admirando as casas e ruas do povoado. Ele nunca tinha saído fora dos portões do palácio.
Foi andando e achando tudo aquilo muito interessante e divertido.
Foi até o mercado e, na maior inocência, pegou uma maçã e mordeu. O dono da barraca pediu o pagamento pela fruta. Sua alteza nada entendeu, não sabia que se devia pagar pelas coisas e nem sequer tinha dinheiro.
Explicou que era príncipe Pandolfo, mas ninguém acreditou e nem mesmo o reconheceu.
Barbudo e de pijama, mais parecia um mendigo ou um doido descabelado.
Juntou uma porção de gente em volta dele exigindo o pagamento da maçã mordida. Príncipe Pandolfo olhou para os homens que o ameaçavam e achou que a única saída era escapar.
Deu um jeito esperto de corpo e fugiu feito um bandido. Correu dando voltas na praça e o povo foi atrás. Entrou por umas ruas, subiu e desceu ladeiras, escorregou, levantou e o povo correu atrás.
Lá pelas tantas, esbaforido, entrou num beco e alguém o puxou para dentro de uma porta.
Era uma moça. Uma moça loira, magrela, nariguda, de boca grande com lindos olhos claros.
- Moço, - disse ela - eu estava na praça e vi o que aconteceu. Percebi que não era um ladrão e vim correndo na frente para ajuda-lo. Fique tranqüilo, aqui você estará a salvo.
O príncipe Pandolfo, exausto, nem agradeceu. Não ensinam os príncipes que se deve agradecer, quando se é salvo por uma garota.
Com a boca seca, ele pediu um copo d’água.
A moça trouxe uma caneca de água fresquinha e gostosa. O príncipe olhou para a caneca fez um muxoxo e disse que só tomava água em copo de cristal.
A moça olhou bem nos olhos dele e disse:
- Azar o seu. Não tempos copos de cristal.
E tomou a água todinha com o maior prazer, estalando a língua. O príncipe fez uma cara de espanto.
- Seu tonto, a água e a sede são mais importantes que o copo?
Pandolfo encantou-se. Nunca, nunquinha, ninguém tinha falado com ele daquele jeito, tão sincero e tão assim, sei lá como.
Sentaram-se à mesa e foram conversando de tudo. Astrologia, filosofia, culinária, navegação, vida das abelhas, das formigas, dos bicho-da-seda, dos gorilas africanos, dos morcegos mancos da Austrália, do cultivo de tulipas rosadas, do ponto ideal da maionese etc.
Em algumas coisas ela concordava com ele, em outras não. Ele achou aquilo interessante.
Depois ela foi fazer bolo e ele ajudou.
Comeram o bolo que estava delicioso, e tomaram chá. Ele achou aquilo muito interessante.
Ele a ensinou a jogar gamão. Ela jogava bem mal, e ele achou tudo aquilo interessantíssimo.
Quando anoiteceu, ele descobriu, surpreso, que não tinha dado nota para ela. Percebeu que ela tinha lindos olhos claros, boca grande, muitos dentes, um nariz que passava das medidas e, mesmo assim, estava tudo certo.
Tinha encontrado sua princesa. Sua linda princesinha nariguda.
Sua Alteza, o príncipe Pandolfo, e Ludovica, casaram-se e foram felizes como todos os príncipes e princesas.
Algumas brigas? Tiveram. Algumas diferenças de opinião? Também, com certeza. O que valeu mais foi que eles se amavam, e muito.
Um casamento nota dez.

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