O aluno
com deficiência visual chegou... e agora?
Por Deise Saraiva
1. Entenda o caso, cada criança é única
Ao receber pela primeira vez um aluno Cego (5º ano do Ensino
Fundamental, 11 anos de idade) em uma escola classe de ensino regular, ainda
que na perspectiva de Inclusão, enfrentamos grandes desafios, porém todos
poderão ser superados com um trabalho em equipe articulado com a família e todos
os segmentos da comunidade escolar.
Eu, Deise Saraiva, como professora
responsável pela Sala de Recursos da EC "X", tenho o papel imprescindível de
propor ações tanto nos dois dias de atendimento da SR como para o professor
regente (5º ano), equipe pedagógica, equipe gestora e discentes. Para isto,
partirei de um Plano de AEE em três frentes: Atendimento Educacional
Especializado Individualizado do aluno ”X”, AEE Coletivo voltado para
professores, alunos e escola como um todo e articulação também com outras
Instituições.
2. Proponha ações de caráter mais individualizado
ü
Promover o reconhecimento do espaço da Sala
de Recursos e da Sala de aula através da mão-sobre-mão (em que o alunos coloca
sua mão sobre a mão da professora e toca objetos e pistas de identificação);
ü
Buscar identificar a melhor adequação
postural do aluno para atividades pedagógicas e lúdicas diversas;
ü
Promover momentos de vivências de passeio
pela escola para que ele possa se apropriar da organização espacial da escola e
da sala de aula, construindo com ele pistas de identificação (o que pressupõe a
sua orientação e mobilidade no ambiente escolar);
ü Caminhar ao ar livre, explorando pelo
cheiro, pelo tato e pelo corpo inteiro as texturas e as formas das árvores, a
terra, as pedras e as plantas do pátio da escola, identificando pessoas e
animais (pássaros, por exemplo) que os ocupam;
ü Identificar as diferentes temperaturas, o
jogo de luz e sombras, a chuva e o sol nas dependências da escola,
identificando pessoas que os ocupam;
ü
Construir objetos de referência e informar isto ao professor regente,
apresentando através de seus significados especiais, pessoas, objetos, lugares,
conceitos e especialmente a rotina diária (um objeto para cada atividade do
dia, por exemplo);
ü Auxiliar, inicialmente, e orientar em
atividades de vida autônoma como: alimentação, higiene e vestuário;
ü Trabalhar a autoestima e autodescoberta do
aluno “X” em aspectos como: integrações afetivo-social, tolerância à
frustração, atenção, concentração e memória, orientação espaço-temporal e
ritmo;
ü Fortalecer a capacidade de simbolização
através de músicas, histórias, parlendas etc;
ü Promover a criação artística, tanto individual
como em grupo através de colagens, pinturas etc;
ü
Identificar, através da observação na sala
de aula: a quantidade de luz
mais adequada ao aluno, monitorar as fontes de iluminação da sala de aula,
principalmente das janelas e dispor o aluno e o professor em posições
estratégicas que favoreçam a percepção do aluno cego e sua participação na aula
de acordo com as atividades propostas;
ü
Construir
marcação ou organização de cantos temáticos tanto na sala de recursos como em
sala de aula (neste caso, em parceria com o professor regente);
ü
Nos
momentos de atividades em laboratório de Informática: priorizar o uso de fone
de ouvido, dispor de teclado Braille e/ou utilizar software que “leia/descreva”
para o aluno cego;
ü Para avaliar o AEE, adotarei procedimentos
que envolvam observações cotidianas, livres e estruturadas nos atendimentos,
nas oficinas e nas diferentes atividades promovidas no contexto escolar;
3. Proponha atividades de caráter coletivo
ü
Promover uma reunião com a Equipe Gestora,
Equipe Pedagógica, SOE, Equipe de Apoio a Aprendizagem, professor regente e
família a fim de esclarecer as peculiaridades do aluno cego que a escola está
recebendo e identificar os interesses e possibilidades do mesmo. Para isto,
estar munido de Relatório Médico e Psicopedagógico (disponível na pasta do
aluno ou, em último caso, na escola em que o aluno estudou no ano anterior);
ü
Capacitar professores quanto aos
pressupostos teóricos e informações referentes à cegueira e ao processo de
ensino e aprendizagem da criança cega;
ü
Assegurar a participação ativa da família
no processo educacional;
ü
Mediar ações relacionadas à adequação
necessária para promover a potencialidade do aluno cego nas diversas atividades
do contexto escolar (festividades, momentos cívicos, momentos culturais,
passeios entre outros);
ü
Planejar o ambiente adequadamente para que o aluno cego tenha
condições favoráveis de interação com pessoas e objetos;
ü
Orientar professores sobre a importância
dos recursos adaptados e materiais pedagógicos, bem como as modificações do
ambiente escolar (com pistas em Braille e sentar o aluno próximo ao
interlocutor, por exemplo);
ü
Orientar o professor regente sobre: antecipar o que vai acontecer ou o local em
que vai acontecer a atividade prevista; estimular o aluno a se comunicar e
explorar o ambiente; buscar saber com o próprio aluno cego se ele está
compreendendo o que está acontecendo durante a aula e no ambiente;
ü
No
caso de utilização de imagens em sala de aula ou distribuídas no espaço escolar
é importante disponibilizar sua descrição em Braille e até mesmo contornar com
relevo o que for mais importante e significativo para a aprendizagem e para que
o aluno possa imaginar o que é ou o que se trata;
ü
Criar, em parceria com a equipe pedagógica
e professor regente, instrumentos de registro com vistas a uma avaliação
pedagógica processual e contínua (como por exemplo portfólio). Observando as estratégias a serem delineadas, previsão do
tempo das atividades, formas de aplicação, avaliação e reavaliação constante da
proposta educacional e das situações de aprendizagem que serão oferecidas ao
aluno cego;
ü
Sensibilizar os alunos quanto à conservação
das pistas distribuídas pela escola;
ü
Disponibilizar material impresso que traga
informações de como se portar diante de um colega cego, para evitar
desconforto, aborrecimento e ações incorretas;
ü
Orientar
colegas da classe a se identificar antes de iniciar sua fala e que falem um de
cada vez para que o colega cego consiga acompanhar a ideia/raciocínio.
4. Busque articulação e parceria com outras instituições
ü
Adquirir
uma impressora Braille para que o aluno possa ter acesso a textos diversos e
lê-los;
ü
Adquirir
uma máquina Perkins e ou a reglete para uso do aluno em sala de aula;
ü
Adquirir
rotuladores que permitem escrever no sistema Braille em plástico;
ü Promover e assegurar direitos do aluno cego
através de parcerias com as Secretarias de Transporte, Obras, Saúde, Educação,
Assistência Social e das instituições do entorno da escola (comércio).
5. Finalmente...
É importante ressaltar que estas ações
demandam tempo e agilidade, pois o aluno cego já está na escola e não pode
esperar... além disso, nem sempre contamos com a formação específica dos
profissionais de educação e, por esta razão, se faz necessário construir na
coordenação pedagógica espaços para estudo e pesquisa.
Finalmente, não é possível a inclusão de
fato e de verdade se não houver um trabalho em parceria entre escola e famílias
no acolhimento deste novo aluno, o aluno cego.
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