AVÓ MALUCA LELÉ DA CUCA & AVÓ PIRADA DA PÁ VIRADA
Jonas Ribeiro
Minhas duas avós perderam os parafusos.
Só pode ser.
Uma é maluca lelé da cuca.
A outra é pirada da pá virada.
Quem não as conhece, pensa que é uma caduca e a outra é gagá.
E só porque4 as duas andam tantãs, misturando as idéias e embananando tudo.
Ainda não estou totalmente certo disso, mas cá entre nós, tenho uma grande esperança de que as duas não percam o juízo e nem fiquem corocas.
Bem, o que importa é que as duas são uns amores, pena que são tão atrapalhadas.
Não faz mal, eu gosto delas do jeito que são, sem mudar uma vírgula.
Antes de tocar a historia adiante, preciso contar como é cada uma.
A vovó Dila costura bem pra chuchu. Ela passa o dia conversando com seus botões. E claro, está sempre bem vestida, combinando bolsa com sapato, saia com blusa e brinco com pulseira. A vovó Dila nunca sai desarrumada, ela adora sair elegante e deslumbrante.
Se ela fosse rica, o guarda-roupa dela seria do tamanho de um estádio de futebol. Um detalhe; a vovó Dila faz um pudim maravilhoso.
Ela é muito charmosa e amorosa. É a avó pirada da pá virada.
Já a vovó Bel, fala mais que a boca. Estou desconfiado de que ela engoliu dez papagaios, vinte maritacas, dois gravadores e cinco quilos de pilha. À noite, a boca da vovó Bel fica tão cansada de falar que acaba dormindo primeiro que os olhos. Claro que uma avó tão faladeira ronca a noite inteira. Coitado do vovô Jota que tem de agüentar os roncos da vovó Bel.
Ah! Ela é muito palhaça, não perde uma oportunidade de fazer uma graça.
É a avó maluca, lelé da cuca. Uma beijoqueira de primeira linha. E que delícia é a panqueca de palmito que ela faz.
Pois é pessoal, eu sou o Jonas, o neto que mais gosta de escrever. Também adoro ler. Se pudesse, ficaria o dia todo lendo. E se pudesse escolher, só ia querer ganhar livro de presente.
Aqui em casa, quem mais me dá presente são as duas. Antes, elas perguntavam o que eu queria ganhar. Hoje em dia, elas não perguntam mais. Vovó Bel compra o que dá na telha e a vovó Dila compra o que dá na veneta.
Duas teimosas, isso sim.
Para vocês terem uma idéia, vou contar a última maluquice que elas aprontaram.
No primeiro domingo do ano em que a família estava toda reunida, eu fiz um discurso pequeno e muito claro.
- A partir de hoje, eu só quero ganhar livro de presente. Tudo bem?
Todos confirmaram e continuaram a conversar.
O carnaval chegou e eu voltei a falar;
- Gente, este ano não vou querer ganhar fantasia de ninguém, prefiro ganhar livro. Tudo bem?
Todos concordaram e eu fiquei sossegado esperando livro novo.
Falei tanto e acabei ganhando um chapéu de três pontas da vovó Dila e um pandeiro da vovó Bel.
Dava pra ver a Páscoa caindo de pára-quedas, cada vez mais próxima, virando as folhinhas do calendário com rapidez.
- Vó, esta páscoa vou preferir ganhar livro no lugar de ovo. Você sabe que aqui em casa tem chocolate que não acaba mais. É só abrir a torneira que sai chocolate. Alguém abre o chuveiro e escorre chocolate. Está faltando livro nesta casa. Eu estou com fome de livro e não de ovo. Tudo bem?
Parecia que estava tudo bem.
Quando abri os dois presentes, vi que o caso era mais sério do que eu imaginava.
Ganhei um chapéu de orelhas de coelho da vovó Dila e uma corneta escandalosa da vovó Bel. No dia da avó, 26 de julho, resolvi fazer uma surpresa para elas.
Desenhei as duas com o maior capricho e comprei dois vasos de violetas.
Elas deram muita risada porque tinham preparado uma surpresa para mim. Ao abrir os presentes que elas me deram, fiquei vermelho de raiva. Adivinhe só o que eu ganhei?
Uma cartola e um cavaquinho.
Finalmente o calendário exibiu oi di8a 16 de setembro, o meu aniversário.
Atrás dos convites, escrevi bem assim:
“Sugestão de presentes: livros, livros e mais livros.”
A avó pirada trouxe-me um chapéu coloridíssimo, de bobo da corte e a avó maluca chegou com um sino esquisito à beça.
Dia da criança, 12 de outubro.
Algo me dizia que tudo ia ser diferente, uma esperança voltou a brincar em meu coração.
A primeira a tocar a campanhia foi a vovó Dila.
Ela chegou com um pacote pequeno.
Suspirei de alívio, só podia ser um livro. Caí do cavalo.
Outro chapéu, cheio de bolinhas azuis.
A campanhia tocou novamente. Restava uma última esperança.
A vovó Bel e o vovô Jota. Chegaram falando. Eles foram logo desejando um bom dia das crianças e entregando uma caixa do tamanho de um livro.
Abri o pacote com todo o cuidado do mundo e dei de cara com um triângulo.
Dia 24 de dezembro.
Um cheiro de pernil assado dançava no ar, a árvore estava linda, cheia de presentes. Eram primos chegando, tio dando risada, mãe pedindo para alguém lavar as taças de vinho. Todo mundo feliz, abraçando-se, trocando beijos e outras figurinhas mais. Depois da ceia, das sobremesas e de muita falação, começou um tal de dar e receber presente. E tia desfila com a blusa nova, prima experimenta uns brincos de penas que mais pareciam dois espanadores, avó Dila ganha uma gargantilha de pérolas falsas e fica emocionada pensando que as pérolas são verdadeiras. Vovó Bel ganha uma torradeira moderna e fica louva de vontade de tomar café com leite4 e comer pão torrado com margarina. Uma confusão. E eu abrindo os meus pacotes: blusas, jaqueta, quebra-cabeça de cinco mil peças, chinelos antiderrapantes para aventuras radicais e nada de livro. Só sobraram dois pacotes para abrir, um da vovó Bel e outro da vovó Dila. No fundo, eu já sabia que ganharia chapéu e instrumento musical. Nem abri os pacotes. Fui para o quintal com um nó na garganta, com uma vontade doida de chorar. Minhas avós perceberam e foram atrás, com os presentes nas mãos. Elas insistiram tanto que eu acabei abrindo.
Um gorro de Papai Noel e um agogô. Eu sabia.
Elas riram e me entregaram outros dois presentes. Quando fui abrir...
Havia ganho uma porção de livros.
Tinha livro de terror, aventura, romance, um chamado “como fazer o chapéu de seus sonhos” e um outro mais esquisito ainda com o título “Aprenda a tocar qualquer instrumento com os olhos fechados”. Pelo menos eu sabia que, a partir daquele Natal, eu só ganharia livros de presentes das minhas duas avós.
Finalmente consegui convencer uma avó biruta e a outra que perdeu uns pinos da cabeça. E, mesmo uma sendo pirada da pá virada e a outra sendo maluca lelé da cuca, eu amo as duas.
Aprendi que vó é vó em qualquer lugar do mundo.
E acho melhor eu acabar logo esta história, porque senão elas podem ficar muito bravas comigo.
Tchau! Vou comer panquecas de palmito e pudim de leite condensado que elas trouxeram para a ceia. Até outro dia!
Adorei seu blog, descobri por acaso no facebook, mas está muito consistente seu trabalho.Sucesso nesta caminhada... Beijos
ResponderExcluirDéo
Adorei seu blog, achei muito lindo e consistente seu trabalho. Um braqço!
ResponderExcluirDeoclides Carvalho
estou trabalhando com este livro, gostaria de ideias com atividades para turma do 3º ano ensino fundamental, por favor.
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