BOM DIA, TODAS AS
CORES!
Ruth Rocha
Meu amigo
Camaleão acordou de bom humor.
— Bom dia,
Sol! Bom dia, flores! Bom dia, todas as cores!
Lavou
o rosto numa folha cheia de orvalho, mudou sua cor para a cor-de-rosa, que ele
achava a mais bonita de todas, e saiu para o sol, contente da vida.
Meu
amigo Camaleão estava feliz porque tinha chegado a primavera. E o sol,
finalmente, depois de um inverno longo e frio, brilhava, alegre, no céu.
—
Eu hoje estou de bem com a vida. Quero ser bonzinho pra todo mundo...
Logo
que saiu de casa, o Camaleão encontrou o professor Pernilongo. O professor
Pernilongo toca violino na orquestra do Teatro Florestal.
—
Bom dia, professor! Como vai o senhor?
—
Bom dia, Camaleão! Mas o que é isso, meu irmão? Por que é que mudou de cor?
Essa cor não lhe cai bem... Olhe para o azul do céu. Por que não fica azul
também?
O
Camaleão, amável como ele era, resolveu ficar azul como o céu de primavera...
Até
que numa clareira o Camaleão encontrou o Sabiá-laranjeira:
—
Meu amigo Camaleão, muito bom dia a você! Mas que cor é essa, agora? O amigo
está azul por quê?
E
o Sabiá explicou que a cor mais linda do mundo era a cor alaranjada, cor de
laranja, dourada.
Nosso
amigo, bem depressa, resolveu mudar de cor. Ficou logo alaranjado, louro,
laranja, dourado.
E
cantando, alegremente, lá se foi, ainda contente...
Na
pracinha da floresta, saindo da capelinha, vinha o senhor Louva-a-deus, mais a
família inteirinha. Ele é um senhor muito sério, que não gosta de gracinha.
—
Bom dia, Camaleão! Que cor mais escandalosa! Parece até fantasia pra baile de
carnaval... Você devia arranjar uma cor mais natural... Veja o verde da
folhagem... Veja o verde da campina... Você devia fazer o que a natureza
ensina.
É
claro que o nosso amigo resolveu mudar de cor. Ficou logo bem verdinho. E foi
pelo seu caminho...
Vocês
agora já sabem como era o Camaleão. Bastava que alguém falasse, mudava de
opinião. Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão. Ficava de toda cor. Não
sabia dizer NÃO.
Por
isso, naquele dia, cada vez que se encontrava com algum de seus amigos, e que o
amigo estranhava a cor que ele estava...
Adivinhe
o que fazia o nosso Camaleão.
Pois ele logo mudava, mudava para
outro tom...
Mudou de rosa
para azul. De azul para alaranjado. De laranja para verde. De verde para
encarnado. Mudou de preto para branco. De branco virou roxinho. De roxo para
amarelo. E até para cor de vinho...
Quando
o sol começou a se pôr no horizonte, Camaleão resolveu voltar para casa. Estava
cansado do longo passeio e mais cansado ainda de tanto mudar de cor.
Entrou
na sua casinha. Deitou para descansar. E lá ficou a pensar:
— Por mais que a gente se
esforce,
não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa.
Outros preferem farelo...
Uns querem comer maçã.
Outros preferem marmelo...
Tem que goste de sapato.
Tem quem goste de chinelo...
E se não fossem os gostos,
Que seria do amarelo?
Por
isso, no outro dia, Camaleão levantou-se bem cedinho.
—
Bom dia, Sol! Bom dia, flores! Bom dia, todas as cores!
Lavou
o rosto numa folha cheia de orvalho, mudou sua cor para a cor-de-rosa, que ele
achava a mais bonita de todas, e saiu para o sol, contente da vida.
Logo
que saiu, Camaleão encontrou o Sapo Cururu, que é cantor de sucesso na Rádio
Jovem Floresta.
—
Bom dia, meu caro Sapo! Que dia mais lindo, não?
— Muito
bom dia, amigo Camaleão! Mas que cor mais engraçada, antiga, tão desbotada...
Por que é que você não usa uma cor mais avançada?
O
Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:
— Eu
uso as cores que eu gosto,
E
com isso faço bem.
Eu
gosto dos bons conselhos,
Mas
faço o que me convém.
Quem
não agrada a si mesmo,
Não
pode agradar ninguém...
E
assim aconteceu
O que acabei
de contar.
Se
gostaram, muito bem!
Se não
gostaram, AZAR!
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